Justiça: Tempo fecha em fórum
Juíza de Abadiânia dá voz de prisão a promotora após bate-boca em audiência. TJ apura o caso
Uma discussão entre a juíza da Comarca de Abadiânia/GO, Rosângela Rodrigues Santos, e a promotora de justiça da cidade, Juliana Almeida França, terminou em barraco na última quarta-feira, 19. Segundo testemunhas, por volta de 10h40 da manhã, durante uma audiência no fórum do município (que também sedia o Ministério Público), a promotora teria discordado da ausência de um item na ata da audiência. Começou então um bate-boca entre as duas, que culminou com a voz de prisão proferida pela juíza contra a promotora.
Segundo funcionários do fórum presentes no momento da discussão, Juliana teria dito que Rosângela não era capaz de fazer seu trabalho da maneira correta. Então, a juíza disse à promotora que se ela não a respeitasse, lhe daria voz de prisão. A promotora elevou ainda mais o tom de voz, desafiando a juíza. Essa teria sido a gota d’água para que Rosângela desse a ordem de prisão imediata.
Perplexos com a cena que estavam presenciando, os policiais militares que estavam no local ficaram sem reação por alguns instantes. Nesse momento, Juliana saiu da sala de audiência, seguida pela juíza, que exigia aos gritos que ela fosse detida imediatamente. A promotora se trancou em sua sala, aos prantos, e ordenou para seus assessores que fossem retirados todos os seus pertences e material de trabalho do local, pois ela não voltaria a atuar ali.
Ficou trancada cerca de duas horas, até que chegasse o procurador-geral de Justiça do Estado de Goiás, Saulo de Castro Bezerra, para conversar com a juíza e acalmar os ânimos. O caso agora corre em sigilo no Tribunal de Justiça. O corregedor do TJ é Paulo Teles.
Estacionamento – A equipe do DM apurou em Abadiânia que o problema de relacionamento entre as duas já ocorre há cerca de três meses. Tudo teria começado por causa de uma vaga de estacionamento. A tal vaga, ao lado da cela do fórum e da vaga destinada à juíza, é utilizada para o desembarque de detentos. A promotora estaria utilizando o local para estacionar seu carro, fato que teria desagradado Rosângela.
“Já aconteceu de os policiais chegarem com um detento e terem que parar em outro local para desembarcá-lo, porque a vaga estava ocupada pelo carro da promotora”, conta um funcionário do fórum que pediu para não ser identificado.
Outro fato apontado pelos funcionários do fórum é que, algumas vezes, a promotora trabalhava até tarde da noite, sendo a última pessoa a deixar o local, e não trancava as portas. Isso teria feito a juíza tomar a decisão de recolher as chaves de todos os funcionários, deixando-as apenas com o porteiro. A partir de então, Juliana teria passado a buzinar para abrirem a porta de entrada quando estacionava o carro na vaga, que fica ao lado da sala de audiência, atrapalhando as sessões. A suposta insistência de Juliana levou Rosângela a proibi-la terminantemente de estacionar no local.
Guincho – Os funcionários do Fórum de Abadiânia contam que Juliana, em dias de chuva, parava o carro em frente a portaria do prédio, carregando pilhas de papéis e documentos que não podiam molhar. Alegando que o local não era destinado ao estacionamento de veículos, Rosângela chegou a chamar um guincho em uma dessas ocasiões, para tirar o carro da promotora do local, o que acabou não se concretizando, mas aumentou o mal-estar entre as duas.
Como teria sido a discussão, segundo apurou o DM:
1) Ao final de uma audiência, por volta das 10h40, a promotora Juliana Almeida França pede que a juíza Rosângela Rodrigues Santos inclua um item na ata da audiência
2) A juíza se nega a incluir tal item. A promotora, irritada, afirma que a juíza “fazia o trabalho nas coxas”
3) Rosângela diz a Juliana que seu comportamento é inadequado e que se ela continuar agindo asism, iria dar voz de prisão
4) Juliana insiste em afirmar que a juíza está agindo de forma errada, e diz não crer que ela seria capaz de mandar prendê-la
5) A voz de prisão é proferida pela juíza, que pede aos policiais militares que levem a promotora até a delegacia do município. Começa então um intenso bate-boca entre as duas
6) A promotora sai da sala de audiência, seguida pela juíza e pelos policiais militares. As duas continuam batendo boca até Juliana se trancar em sua sala
7) Forma-se um tumulto na porta. Após duas horas, a juíza decide revogar a ordem de prisão. A promotora deixa sua sala, levando seus pertences
Fonte: www.dm.com.br (21/04/2006 - Bruno Rocha Lima -Da editoria de Cidades, de Abadiânia).