“A denúncia é preocupante. Se proceder vamos tomar todas as medidas para que se esclareça esta situação”, disse o governador do Departamento de Pando, na Bolívia, Luis Adolfo Flores, sobre o vídeo de uma suposta tortura de presos brasileiros dentro do presídio de Vila Bush. As imagens exibidas em emissoras de TV local e postadas em portais de notícias do Acre mostravam dois presos sendo violentamente espancados por supostos policiais bolivianos.
Luis Adolfo Flores pediu que os deputados protocolassem um documento com todas as denúncias apresentada pelos familiares dos presos e o vídeo com as cenas que supostamente teriam sido gravadas em Vila Bush. Mesmo antes de analisar o material que será enviado pelos deputados acreanos, o governador agendou data para a visita para a visita oficial das autoridades brasileiras, que acontecerá no dia 28 de junho.
Preocupados com a situação, a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), aprovou em sessão uma audiência da Comissão de Direitos Humanos da Casa, com o governador de Pando, para cobrar um posicionamento e esclarecimentos das autoridades bolivianas, sobre o episódio. A reunião aconteceu na tarde de sexta-feira, 17, envolvendo deputados do Acre, a prefeita de Cobija e o governador de Pando.
Os maus tratos aos presos brasileiros não chega a ser uma novidade. No ano de 2008 a Ordem dos Advogados do Brasil, secção Acre (OAB-AC) visitou a unidade prisional boliviana, após vários relatos de familiares de brasileiros que cumprem pena no país vizinho. De acordo com os familiares, os detentos eram constantemente agredidos e submetidos a sessões de tortura, além de só serem alimentados se os parentes levassem a comida, que ainda era dividida com os carcereiros.
A reportagem de conversou com um brasileiro que cumpriu quatro anos de prisão em Vila Busch, por tráfico de drogas. Não vamos revelar o nome do preso, para não causar constrangimento em seu ambiente de trabalho em Brasiléia, mas segundo ele, a situação é bem pior do que é mostrada no vídeo. O ex-presidiário relatou que viveu num verdadeiro inferno, com todos os tipos de humilhações que uma pessoa pode sofrer.
“Muitas madrugadas eles [os policiais boliviano] jogavam água para que os brasileiros não conseguissem dormir. Éramos tirados das celas e levados ao pátio, onde tínhamos que tirar as roupas e eles jogavam mais água, durante até duas horas. Nossa situação lembra aquela vivida pelos presos iraquianos. As sessões de tortura eram uma constante. Aquele lugar não foi feito para seres humanos, para sobreviver lá, é preciso ser um pouco animal”, diz o ex-presidiário.
Apesar de a reunião ter sido agendada pela prefeita Leila Galvão (PT), ela não compareceu ao evento, que foi sucedido por uma série de episódios suspeitos. Os membros da CDH da Aleac, juntamente com o senador Sérgio Petecão (PMN), foram levados a uma sala, onde passaram mais de uma hora esperando as autoridades bolivianas. Primeiro a prefeita de Cobija, Ana Lúcia dos Reis chegou de forma sorrateira, para levantar o assunto da reunião.
Depois que os deputados explicaram o teor do debate, ela informou que teria sido convocada pelo governador, para participar do evento, mas nem sabia por que estaria lá. “Recebi um convite do próprio governador, mas vejo que o assunto não diz respeito à prefeitura”, declarou Ana Lúcia, que em seguida saiu da sala. Logo em seguida chegou o assessor de comunicação de Luis Adolfo Flores, que anotou tudo, informando que o governador estaria chegando num vôo, proveniente de La Paz.
Depois de longos minutos de espera, uma assessora entrou na sala e de forma contraditória a informação anterior, disse que o governador Adolfo Flores estaria chegando de carro, que estaria apenas a trinta quilômetros da capital do Departamento de Pando, Cobija. O senador Sérgio Petecão levantou a suspeitas de que as autoridades bolivianas estariam reunidas para discutir o assunto, antes de apresentar a justificativa para a comissão.
Fonte: AC24Horas