quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Profissão perigo, porém muito nobre


Um estudo da Organização Internacional do Trabalho apontou a profissão de agente penitenciário com a segunda mais perigosa do mundo. E a realidade goiana respalda a definição. “É uma profissão de tensão total. O agente penitenciário é o mais vulnerável no caso de uma rebelião. E, diga-se de passagem, uma moeda de troca muito fraca”, ressalta Jorimar. O presidente da Associação recorda que somente no ano passado dois colegas goianos foram mortos. O primeiro baleado no presídio durante uma fuga. O outro executado nas ruas do Parque Amazonas. “Muitas vezes o preso sabe onde a gente mora. Se sair, ele vai lá e mata”, resume.

ADRENALINA

As ameaças dentro do presídio são constantes. “Eu sei onde você mora”, “no dia que eu sair, você está enrolado”, “você tem família?” são frases que os agentes penitenciários já se acostumaram a ouvir. “No começo eu fazia muito TCO (Termo Circunstancial de Ocorrência), mas depois você desiste. O delegado já está enjoado de ouvir isso”, ironiza Cícero Nogueira. Depois de 15 anos trabalhando de perto com os reeducados, Cícero aprendeu alguns procedimentos de segurança. Não usa aliança, não deixa transparecer que tem família e é rígido. “Sigo o que diz a lei de execuções penais. Sei que no caso de uma rebelião, posso sofrer um pouco. Tanto que há colegas que são mais maleáveis já pensando no caso de um motim”, avalia.

Encontrar um ex-detento na rua é adrenalina pura e mostra porque andar constantemente armado é uma peculiaridade necessária à profissão. Jorimar já vivenciou a experiência. Depois de ouvir o reeducando ameaçá-lo por vezes reencontrou o conhecido fora da penitenciária, em um shopping. “Quando você encontrar ele na rua aí vê que a situação é séria, mais do que você pensa. Eu fui andando, ele vindo em minha direção. E eu pensava se ficava quieto, se atirava. Continuei andando e coloquei a mão na arma”, recorda. No final, o ex-detento passou por ele, disse que não iria fazer nada. “Ele correu para um lado e eu para o outro”, finaliza.
“O caos é a falta de pessoal”

Pelos dados da própria Associação dos Agentes Penitenciários e Servidores da Agência Goiana do Sistema Penitenciário (Assagesp), em todo o Estado, sob a supervisão da Agência Goiana do Sistema Prisional, existem 47 unidades prisionais que aglomeram 15 mil reeeducandos. Todo esse contingente vive sob a responsabilidade de cerca de mil agentes penitenciários – 600 concursados e outros 400 contratados.

Somente no complexo prisional de Aparecida de Goiânia – onde está o antigo Cepaigo – há 4 mil reeducandos divididos ainda na Casa de Prisão Provisória (CPP), Núcleo de Custódia (a segurança máxima), o semi-aberto, Centro de Inserção Social Consuelo Nasser (penitenciária feminina) e a Casa do Albergado (este último situado fora de Aparecida, no Jardim Europa, na Capital goiana). Para a guarda de todo esse universo de reeducandos há 350 agentes penitenciários. “Fica visível que o caos do sistema penitenciário é a falta pessoal”, ressalta Jorimar Antônio Bastos Filho, presidente da Assagesp.

O contato do agente penitenciário com o reeducando é direito. “Todo dia pela manhã, no Cepaigo, a gente abre as celas e tem contato direto com eles. São seis agentes para abrir alas com 400 presos cada uma”, conta Jorimar. Durante todo o dia os presos ficam livres pelo pátio do presídio, tomam banho de sol e à noite os agente fazem o trabalho inverso: fecham as celas. É nessa hora que as revistas são feitas. Somente os agentes são autorizados a fazer apreensão dentro da cadeia. “E para isso ainda contamos com um material escasso, armas obsoletas, quem quer se proteger melhor tem que ter equipamentos próprios”, critica o presidente.


Na hora da revista nas celas, tudo é conferido. Cada canto é inspecionado. “Colocamos a mão dentro do vaso, no cano, olhamos o lixo, tudo. Com luva, comprada pelo próprio agente, porque dentro do presídio tem de tudo, pessoas com HIV, hepatite, tuberculose...”, explica Jorimar. As apreensões são comuns e dos mais diversos materiais: celulares, facas de produção dos próprios detentos, bebidas alcóolicas e até armas de fogo. “Já teve dia de nós encontrarmos 60 facas de uma vez só”, diz.

As apreensões de armas dentro da cadeia são mais um ponto que demonstra a vulnerabilidade do agente penitenciário. “Meu pai, minha mãe tem muito medo. Mas eu gosto do que eu faço”, ressalta o agente Cícero Nogueira depois de 15 anos de profissão.
Fonte: ASPEGO

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