terça-feira, 27 de abril de 2010

‘Mais mortes podem ocorrer’

Caxias do Sul – Representantes dos agentes penitenciários da cidade e do Estado temem que mais fatos graves como a morte do colega Carlos Eduardo Zaniol Bellini, 32 anos, ocorram. Após ficar quatro dias sem aparecer no trabalho, o agente foi encontrado morto em seu apartamento, ao meio-dia de domingo. Ele tinha um ferimento de arma de fogo na cabeça. Conforme levantamento no apartamento, no bairro São Pelegrino, Zaniol cometeu suicídio.

Os colegas de classe reclamam de más condições de trabalho, estresse, denúncias infundadas e generalizadas e falta de assistência psicológica eficaz. Os agentes dizem que Zaniol nada tinha a ver com supostas agressões contra presos do Presídio Regional, na localidade de Apanhador, entre 8 e 9 de abril.

Um processo administrativo foi instaurado e o nome de Bellini e de outros nove agentes, citados no Diário Oficial do dia 20 de abril. O fato teria revoltado ainda mais o agente, que deixou de comparecer à Penitenciária Industrial, para onde foi remanejado. Com o sumiço e sabendo dos antecedentes de depressão de Zaniol, agentes resolveram procurá-lo e entraram no apartamento.

Zaniol, na Susepe desde 2007 e sem ter respondido a procedimentos disciplinares até então, mostrava sinais de irritação desde que a denúncia de agressão se tornou pública. Ele achava que a carreira dedicada à farda preta estava comprometida. Imagens gravadas na cadeia mostraram agentes penitenciários tentando conter dois presos. Quinze servidores foram afastados temporariamente, incluindo Zaniol. Eles foram levados à Polícia Civil de Caxias em um micro da Brigada Militar, gerando comemoração por parte dos 370 presos do Apanhador. As denúncias de tortura não se confirmaram.

– Por causa de situações assim, onde somos expostos sem qualquer comprovação e jogados contra a opinião pública, mais mortes podem ocorrer – disse, em meio a lágrimas, o diretor da Penitenciária Industrial de Caxias, Marlon Moraes Oliveira.

Se confirmada a morte por suicídio de Zaniol, terá sido o terceiro caso envolvendo agentes penitenciários caxienses em quatro anos.

Mais estrutura – Para o vice-presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado, Flávio Berneira, o agente que atua nos presídios gaúchos “adoece a cada dia”.


– Não existe profissão tão estressante quanto a nossa – enfatiza. (de acordo com a Organização Mundial de Saúde, agente penitenciário é segunda profissão mais estressante do mundo).

Os representantes dos agentes acreditam que o Estado deveria aprimorar o tratamento de quem passa por alguma dificuldade.
– O que temos é pouco – destaca.

Quem era a vítima: Carlos Zaniol Bellini morava sozinho e não tinha irmãos. A mãe morreu há cerca de 15 anos e ele não mantinha muito contato com o pai, segundo Marcelo Nichele, 42, primo de Zaniol. Segundo colegas, era muito reservado e adorava a profissão.

Fonte: Jornal o Pioneiro

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