domingo, 1 de novembro de 2009

Criminosos usam crianças para entrar com celulares em presídios


Detentos de presídios paulistas aliciam meninas de até 10 anos para o trabalho
Após as denúncias, revista íntima passou a ser obrigatória para toda visita.
Meninas de até 10 anos são usadas para burlar a vigilância e fazer com que telefones celulares sejam entregues para detentos de presídios paulistas. Uma investigação sigilosa da Polícia Civil e do Ministério Público apura a ocorrência do crime na penitenciária de segurança máxima em Presidente Venceslau, que abriga mais de 700 condenados.O principal objetivo da investigação é saber quais são os presos que estão aliciando meninas para entrar na cadeia com celulares escondidos no corpo. "Antes a gente escutava falar de meninas de 17 e 18 anos. E agora não, eles não estão respeitando nem as crianças", revela Daniela Farias, conselheira tutelar.
Em uma penitenciária, em Mirandópolis, a 160 quilômetros de Presidente Venceslau, uma outra menina de 13 anos também foi flagrada levando celular para bandidos. Há suspeitas de que um grupo - liderado por uma mulher - seja o principal intermediário entre os presos e as crianças da região. Por R$ 500
Há menos de um mês, uma adolescente de 13 anos foi flagrada com um celular no momento em que passava pela revista íntima em Presidente Venceslau. Ela conta que foi contratada pela irmã de um dos presos, para se passar por sobrinha dele, em troca de R$ 500. Esse criminoso já foi identificado. "Tinha muita vontade de conhecer a cadeia. Eu acabei me empolgando e levei", conta a menor. Ela vai ficar em liberdade, mas acompanhada regularmente por uma equipe do conselho tutelar. Para a mãe, a atitude da filha foi uma surpresa.

"Eu realmente não esperava que ia chegar nesse ponto, eu não esperava. Ela ainda é uma criança, ela ainda vai pela cabeça dos outros", lamenta a mãe da menor. Existem denúncias de que até uma menina de 10 anos chegou a ser aliciada pelos presos de Presidente Venceslau.

Na penitenciária de segurança máxima, entre outros detentos, estão Wanderson de Paula Lima, o Andinho, seqüestrador condenado a mais de 400 anos de prisão, Julio César de Moraes, o Julinho Carambola, e Marcos Camacho, o Marcola, chefes da quadrilha que age dentro e fora das prisões do estado de São Paulo.

Novo procedimento
Todos os visitantes adultos que chegam à penitenciária passam por uma revista rigorosa. Depois de tirar as roupas, precisam sentar em um banco equipado com um detector de metais. É ele que avisa aos agentes se há celulares escondidos. Um procedimento que só agora, depois da descoberta do aliciamento de menores, passou a ser obrigatório também para as crianças.
Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), quando há casos graves, a direção de cada unidade tem autonomia para definir medidas que reforcem a segurança, mesmo que essas medidas digam respeito a menores de idade. Nos fins de semana, cerca de 300 pessoas passam pela cadeia, para visitar os presos, 10% são crianças.

Funcionários
Além da investigação que apura o aliciamento de meninas, existe uma outra para saber se funcionários recebem suborno para entregar celulares aos criminosos. "Não tenho dúvida nenhuma de que hoje o celular se constitui na maior arma que o crime organizado tem", avisa o promotor André Luiz Felício.
No ano passado, um agente do grupo de elite de Presidente Venceslau, criado para conter fugas e rebeliões, foi preso com 16 celulares. Ele confessou que cada aparelho lhe renderia R$ 2 mil. Um funcionário, de uma outra penitenciaria, que não quer ser identificado, diz que corrupção é algo comum nas cadeias paulistas. "Para um funcionário corrupto, é um prato cheio. Ele fala assim: dois, três celulares que eu levo por mês para dentro da cadeia, eu ganhei o dia", afirma o agente.

Um caderno - obtido com exclusividade pelo Fantástico - foi encontrado em um outro presídio de segurança máxima da região. Escrito pelos próprios presos, o diário circulava livremente entre as celas. Em um trecho, uma ordem: os parentes não podem trazer nenhum tipo de entorpecente ou armas. A explicação: existem outros meios para fazer isso. Um preso escreve: "estamos agindo na maior disciplina e com inteligência".

"Os outros meios" seriam, segundo o Ministério Público, uma referência a advogados e a agentes penitenciários que recebem dinheiro para cumprir ordens dos criminosos. "O único contato que ele tem é com funcionário, com advogado e com visita, e essa oportunidade para ele sempre vai ser uma oportunidade de corromper essas pessoas", esclarece o promotor.

Investimento
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária afirma que quando a corrupção é comprovada, o servidor é demitido. Diz ainda que intensificou as revistas e que houve um investimento de R$ 34 milhões na compra de equipamentos, como raio-x e detector de metais. A polícia já sabe que presos de outras cadeias do oeste paulista estão usando o mesmo esquema de aliciamento de menores.

Do G1, com informações do Fantástico

Nenhum comentário:

Postar um comentário